terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Resenha: Condenáveis - Uma história de Pai e Filho

Autor: Leonardo Torres
Publicação Independente.


Sinopse:
Ele descobriu que o pai havia sido preso através de um programa de TV. No início, sentiu culpa e vergonha por acreditar ser filho de um criminoso. Depois, raiva e aversão. Tudo o que queria era distância. Policial civil conhecido pelo combate ao tráfico de drogas, o pai foi acusado de venda de armas e repasse de informações sigilosas a traficantes procurados no Rio de Janeiro. Era a chamada Operação Guilhotina, que ocupou os noticiários nacionais em 2011. Estudante de Jornalismo, o filho tinha pânico que os colegas de trabalho descobrissem sua ascendência. Nunca pensou em visitar o pai na cadeia ou em telefonar para ele após sua libertação. O filho condenou o pai e, neste livro, explica o porquê.

Minha opinião:



    Este livro conta a história da vida de Leonardo, narrado por ele próprio expondo o seu ponto de vista da relação entre ele e o pai. Se a vida fosse tão básica assim este resumo estaria pronto.
    A verdade é que este livro é uma explicação, um habeas corpus do autor, explicando para quem ouse julga-lo o porque de não amar o pai. Toda história tem dois lados e infelizmente nunca saberemos o outro. Mas é fato que em muito momentos a criança não teve a presença paterna e com razão se sentiu posta de lado.
    Por ser um homem machista e turrão, policial civil, acostumado a tratar com criminosos, Leonardo Pai achava que o filho seria tão firme quanto ele e Leonardo Filho, mais inclinado as artes, mais humano, esperava que o pai fosse mais sensível, mais presente. E como ambos sempre aspiraram ao menos a compreensão de seu perfil pelo outro, nunca se entenderam.

    Em um determinado momento Leonardo diz que é mais fácil contar sua história a alguém que tenha passado por algo semelhante, pois compreenderia melhor, sim eu compreendi, passei por muitas coisas semelhantes e no entanto somos pessoa diferentes.
    Não vou narrar minha epopéia, basta dizer que com 8 anos minha mãe casou novamente, meu padrasto alcoólatra, batia nela e nos torturava psicologicamente, muito parecido com o que ele passou com sua avó.
Um dia, eu já com 19 anos, meu padrasto deu um tiro em minha mãe, mas para nossa sorte ele errou. Quando fiquei sabendo, me descontrolei, tive tanto ódio que minha visão embaçava, quando meu irmão disse que ele desejava falar comigo, pensei que seria eu a matá-lo.
Fui até ele e bufei, com os dentes trincados, questionando o porque de ser uma pessoa tão má? Pois não era apenas o álcool, era ele, sua personalidade egocêntrica que tornava todos joguetes em suas mãos. Perguntei se ele tinha noção de quanto a nossa vida era infeliz, se sabia quantas vezes eu dormia pedindo a Deus que ele morresse?
E então ele chorou e chorou e chorou. E de todos os arrependimentos que ele já havia tido, nesse eu acreditei, porque pela primeira vez eu falei com ele, de verdade.

    Hoje em dia, nos falamos por telefone, minha mãe não é mais casada desde este episódio. Eu ligo de vez em quando, pergunto como ele está, se parou de beber, se está se alimentando direito, conto como está meu filho - que ele chama de neto - e quando vou para o Sul sempre dou um jeito de visitá-lo, ele me busca no aeroporto, almoçamos juntos. Não é confortável, nunca é, mas me sinto melhor por ter tomado essa decisão. Porque consegui, num dia ruim, olhar para ele, sentar do seu lado e o ouvir, mesmo depois dele ter feito o que fez.

    Este livro me fez pensar na forma que julgamos o outro, muitas vezes é necessário questionar se o que ela nos dá, não é o melhor que tem para oferecer, mesmo que nos pareça tão pouquinho é a capacidade completa desta pessoa. Nem todos sabem amar e cuidar.

    O livro é muito fácil de ler, escrito como se o autor conversasse conosco, um papo entre amigos.
Impossível não desejar um final melhor, nem entro no mérito dos crimes de seu pai e acredito sim que a mídia crie vilões e seja comprada, o Brasil é um prato cheio, já vi isso acontecer com pessoas próximas a mim, inocentes até que a opinião pública seja influenciada.

    Me fez pensar tanto esta leitura. Ficou um pedaço da história aqui comigo.

Bjos a todos.

10 comentários:

  1. Amiga, fiquei emocionada lendo sua resenha... não pela história do livro, me desculpe, mais pela sua..
    Muito bela sua atitude,. muitos deveriam tomar essa atitude, o que deve ter sido muito dificil eu acredito.. Não é facil amiga, nunca devemos julga a vida de ninguem...
    Meu pai era alcoólatra tb, e vi várias cenas tb, e tenho elas na minha cabeça até hj, claro nunca presenciei nada muito pesado, mais vi meu irmão ameaçar meu pai com uma faca e isso foi dificil...
    Vida...
    É o que a bebida faz...

    beijos,
    http://www.dailyofbooks.blogspot.com.br/

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  2. Acho uma batalha vencida quando o autor publica sua obra de forma independente, sabia? São poucos que conseguem e são poucos que realmente lutam por isso.

    Não conhecia este título, mas pela resenha parece ser realmente um livro que faz refletir. É bom quando o livro marca e nos deixa com aquela "ressaca", né?

    Um beijão,
    Pronome Interrogativo.
    www.pronomeinterrogativo.com

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  3. Oi Fê!

    Nossa, ambas são histórias bem complicadas, mas admiro sua atitude, muitos devem repensar também! Já li Condenáveis e repensei sobre várias aspectos!

    Beijos

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  4. Oi Fê, tudo bem?
    Não sei o que dizer. Não li o livro, mas já tinha lido algumas resenhas, mas acredito que depois da sua pude perceber um pouco mais sobre o livro. Imagino que não deve ter sido algo fácil pra você, mas no fim você conseguiu colocar pra fora tudo aquilo que estava dentro de você, e isso foi uma espécie de libertação pra você e pro seu ex-padrasto.
    Abraços,
    Amanda Almeida

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  5. Ainda não li o livro
    Só vejo muitas resenhas por ai
    E parece ser um livor bem interessante

    Beijos
    @pocketlibro
    pocketlibro.blogspot.com.br

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  6. Nooossa Feer! Que linda resenha ^^
    Eu li e gostei muito do livro, faltou um pouquinho para se tornar favorito. Tbm sofro meu pai é alcoolátra, mas a graças a Deus ele não causa, só infelizmente bebe.
    Esse livro mexe muito com a gente e realmente nos faz pensar em como nos agimos e pensamos ^^
    Beijos
    brubs

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  7. Esse livro realmente é ótimo e faz com que a gente coloque na balança muita coisa que vivemos. Tb passei muitos horrores com o segundo marido da minha mãe e só posso presumir que alguem que seja tão mau, só pode ter algum disturbio mental grave e nem serve pa conviver socialmente.
    Parabens pela resenha, e mais ainda pela coragem em expor esse pedacinho (mesmo que triste) da sua vida com a gente!

    Bjokas
    Flavia - Livros e Chocolate

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  8. Eu li esse livro e ele me fez repensar coisas como acusações sem provas, ou, nas vezes que não damos aos outros a oportunidade de se pronunciar.

    Lucas / Era uma vez

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  9. Puxa, parece que gostou mesmo do livro. É uma das resenhas mais "ligadas" que eu já li. Muito boa, espero que o livro seja muito bom mesmo.

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  10. Oi Fe.

    Gostei muito da sua resenha. Acho que você foi muito corajosa em expor assim a sua história. Eu sei bem como é ter problemas com pai e com padrasto. Meu padrasto é pedófilo e há poucos anos descobri que meu pai também é, meu padrasto ficou alguns meses preso por ter abusado da minha irmã e de duas primas, e meu pai quase foi preso também por ter mexido com uma menina. É difícil não julgar e perdoar. Além de torcer pra que a pessoa se trate e melhore. Minha mãe não conseguiu ter a força que a sua teve pra sair dessa situação que ela acredita ser amor, continua casada com ele e por amor a ela fingimos que nada aconteceu. Enfim tentamos superar isso todos os dias, é um eterna luta. Sei bem como vc se sente e admiro você por ter contado a sua história.

    Beijinhos.

    Flá do Chata dos Livros

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